Eles são acessíveis, relativamente baratos, fáceis de tomar, provocam alívio quase imediato e, para muitos, parecem totalmente inofensivos. No entanto, especialistas alertam que o uso abusi
vo de alguns medicamentos simples, como descongestionantes nasais, antiinflamatórios, analgésicos e antibióticos, pode levar a intoxicações graves ou ao retorno dos sintomas desagradáveis.
Os seus riscos também preocupam a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que admite falhas no controle da venda de remédios e informa que deverá partir para uma nova estratégia: mais campanhas e maior fiscalização nas farmácias.
Informações do Datasus 2012 mostram que o consumo excessivo de medicamentos é a principal causa de intoxicação no país: 9.869 (37%) casos até junho. A curva cresceu 135% de 2007 — início dos registros de intoxicações exógenas (onde inclui-se a por remédio) — a 2011, ano que registrou 63.308 casos no Brasil. Crianças entre 1 e 4 anos são as mais afetadas (cerca de 30%).
ALERTA PARA OS DESCONGESTIONANTES
Por experiência, sabemos que os descongestionantes são os principais causadores de intoxicações por uso acidental, especialmente em crianças — disse a coordenadora clínica do Centro de Controle de Intoxicações da UFF, Lília Ribeiro Guerra. — Noto as intoxicações aumentarem a cada dia, mas não há uma política eficiente de prevenção.
Além disso, o nosso centro hoje é o único do estado do Rio.
Somente depois do susto de ter a sobrinha Ana Clara Costa, de 14 anos, internada por três dias na UTI do Hospital Quinta D’Or, Solange Costa se convenceu do perigo do uso indiscriminado de descongestionante nasal: — A Clara começou a usá-lo por causa de uma gripe há dois anos. Como é vendido sem receita, virou um vício.
Um dia ela começou a passar mal, a ter tonteiras, ver tudo escuro, chegou a desmaiar no chuveiro. Os batimentos foram a 40 por minuto e a pressão caiu muito rápido. Foi a 7 por 4 — conta.
Segundo a pediatra da emergência que atendeu Ana Clara, Sabrina Barreira, este não foi o primeiro caso de intoxicação por descongestionante nasal.
— Já atendi crianças intoxicadas com a nafazolina, presente em alguns descongestionantes, e que precisa de receita médica. Esta substância não pode ser administrada para crianças abaixo de 12 anos. A versão infantil é composta de cloreto de sódio, que serve apenas para limpar o nariz. Os alérgicos adultos o usam com frequência, mas eles podem ter efeito rebote, ou seja, podem levar ao aumento da congestão nasal.
NOVA AUDIÊNCIA PÚBLICA ESTE MÊS
A coordenadora da Cardiologia do Quinta D’Or, Jacqueline Sampaio, lembra que, até para adultos, o uso não deve ser feito sem prescrição médica.
— Indivíduos cardiopatas, hipertensos, podem ter aceleração do coração, mesmo em doses normais. Há, portanto, pessoas que não podem usá-lo.
Em 2010, a Anvisa determinou a venda de antibióticos com retenção de receita médica para combater as bactérias superresistentes. Apesar de não necessitarem prescrição para venda, analgésicos e anti-inflamatórios também preocupam a agência. Dados dos últimos dois meses do IMS Health, empresa de consultoria em marketing farmacêutico, mostram que Dorflex, Neosaldina e Torsilax foram os mais vendidos no país. A Anvisa chegou a determinar que os comprimidos ficassem atrás do balcão das farmácias. Por não ter surtido efeito, a decisão foi revogada.
— A Anvisa dá um passo à frente e dois atrás — criticou a coordenadora do Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas da Fiocruz, Rosany Bochner, que ainda cobrou embalagens de remédios mais seguras e um maior controle das propagandas.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, em 27 de setembro haverá em Brasília uma audiência pública para discutir a venda consciente de remédios. Ele reconhece a necessidade de campanhas e as falhas no controle das farmácias, e diz que a retenção de receitas não é melhor saída.
— Deve ser zero o número de punição por venda indiscriminada de droga tarjada. Há uma cultura de convivência passiva da farmácia e dos agentes de vigilância.
Num curto prazo, queremos mudar o comportamento, aumentando o controle e as atitudes educativas — afirma Barbano. — Temos capacidade de controle de fabricação e distribuição com rigor de países desenvolvidos, mas nas farmácias vivemos uma fragilidade de país subdesenvolvido.
Superdosagem - Alerta para os medicamentos
ANTIBIÓTICOS. Em 2010, a Anvisa determinou a retenção de receita médica para a venda de antibiótico. A norma anterior já previa a venda apenas com prescrição médica, o que não era cumprido. O uso excessivo de antibiótico vinha levando à reprodução de bactérias multirresistentes e reduzindo sua eficácia. O uso abusivo pode provocar lesões hepáticas e surdez.
PARACETAMOL. A substância compõe analgésicos e deve ser administrada a cada seis horas. Se usada na dose errada, pode causar hepatite fulminante, levando até à morte. Em períodos de epidemia de dengue, o Centro de Controle de Intoxicações, em Niterói, registrou casos de superdosagem.
Nos EUA, a FDA (agência de controle de remédios) determinou que os fabricantes advertissem os consumidores sobre possíveis danos ao fígado.
ÁCIDO ACETILSALICÍLICO. Os comprimidos AAS estão entre os mais vendidos no mundo e têm função anti-inflamatória, mas sua superdosagem pode levar a lesões hepáticas. Além disso, deve ser evitado em pacientes contaminados pela dengue.
DIPIRONA. Prescrita para combater dores, a substância foi proibida nos EUA, sob a justificativa de que causaria agranulocitose (redução do número de leucócitos). Estudos posteriores e a Anvisa discordam. A substância pode provocar alergias.
Jornalista: Flávia Milhorance
Os seus riscos também preocupam a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que admite falhas no controle da venda de remédios e informa que deverá partir para uma nova estratégia: mais campanhas e maior fiscalização nas farmácias.
Informações do Datasus 2012 mostram que o consumo excessivo de medicamentos é a principal causa de intoxicação no país: 9.869 (37%) casos até junho. A curva cresceu 135% de 2007 — início dos registros de intoxicações exógenas (onde inclui-se a por remédio) — a 2011, ano que registrou 63.308 casos no Brasil. Crianças entre 1 e 4 anos são as mais afetadas (cerca de 30%).
ALERTA PARA OS DESCONGESTIONANTES
Por experiência, sabemos que os descongestionantes são os principais causadores de intoxicações por uso acidental, especialmente em crianças — disse a coordenadora clínica do Centro de Controle de Intoxicações da UFF, Lília Ribeiro Guerra. — Noto as intoxicações aumentarem a cada dia, mas não há uma política eficiente de prevenção.
Além disso, o nosso centro hoje é o único do estado do Rio.
Somente depois do susto de ter a sobrinha Ana Clara Costa, de 14 anos, internada por três dias na UTI do Hospital Quinta D’Or, Solange Costa se convenceu do perigo do uso indiscriminado de descongestionante nasal: — A Clara começou a usá-lo por causa de uma gripe há dois anos. Como é vendido sem receita, virou um vício.
Um dia ela começou a passar mal, a ter tonteiras, ver tudo escuro, chegou a desmaiar no chuveiro. Os batimentos foram a 40 por minuto e a pressão caiu muito rápido. Foi a 7 por 4 — conta.
Segundo a pediatra da emergência que atendeu Ana Clara, Sabrina Barreira, este não foi o primeiro caso de intoxicação por descongestionante nasal.
— Já atendi crianças intoxicadas com a nafazolina, presente em alguns descongestionantes, e que precisa de receita médica. Esta substância não pode ser administrada para crianças abaixo de 12 anos. A versão infantil é composta de cloreto de sódio, que serve apenas para limpar o nariz. Os alérgicos adultos o usam com frequência, mas eles podem ter efeito rebote, ou seja, podem levar ao aumento da congestão nasal.
NOVA AUDIÊNCIA PÚBLICA ESTE MÊS
A coordenadora da Cardiologia do Quinta D’Or, Jacqueline Sampaio, lembra que, até para adultos, o uso não deve ser feito sem prescrição médica.
— Indivíduos cardiopatas, hipertensos, podem ter aceleração do coração, mesmo em doses normais. Há, portanto, pessoas que não podem usá-lo.
Em 2010, a Anvisa determinou a venda de antibióticos com retenção de receita médica para combater as bactérias superresistentes. Apesar de não necessitarem prescrição para venda, analgésicos e anti-inflamatórios também preocupam a agência. Dados dos últimos dois meses do IMS Health, empresa de consultoria em marketing farmacêutico, mostram que Dorflex, Neosaldina e Torsilax foram os mais vendidos no país. A Anvisa chegou a determinar que os comprimidos ficassem atrás do balcão das farmácias. Por não ter surtido efeito, a decisão foi revogada.
— A Anvisa dá um passo à frente e dois atrás — criticou a coordenadora do Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas da Fiocruz, Rosany Bochner, que ainda cobrou embalagens de remédios mais seguras e um maior controle das propagandas.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, em 27 de setembro haverá em Brasília uma audiência pública para discutir a venda consciente de remédios. Ele reconhece a necessidade de campanhas e as falhas no controle das farmácias, e diz que a retenção de receitas não é melhor saída.
— Deve ser zero o número de punição por venda indiscriminada de droga tarjada. Há uma cultura de convivência passiva da farmácia e dos agentes de vigilância.
Num curto prazo, queremos mudar o comportamento, aumentando o controle e as atitudes educativas — afirma Barbano. — Temos capacidade de controle de fabricação e distribuição com rigor de países desenvolvidos, mas nas farmácias vivemos uma fragilidade de país subdesenvolvido.
Superdosagem - Alerta para os medicamentos
ANTIBIÓTICOS. Em 2010, a Anvisa determinou a retenção de receita médica para a venda de antibiótico. A norma anterior já previa a venda apenas com prescrição médica, o que não era cumprido. O uso excessivo de antibiótico vinha levando à reprodução de bactérias multirresistentes e reduzindo sua eficácia. O uso abusivo pode provocar lesões hepáticas e surdez.
PARACETAMOL. A substância compõe analgésicos e deve ser administrada a cada seis horas. Se usada na dose errada, pode causar hepatite fulminante, levando até à morte. Em períodos de epidemia de dengue, o Centro de Controle de Intoxicações, em Niterói, registrou casos de superdosagem.
Nos EUA, a FDA (agência de controle de remédios) determinou que os fabricantes advertissem os consumidores sobre possíveis danos ao fígado.
ÁCIDO ACETILSALICÍLICO. Os comprimidos AAS estão entre os mais vendidos no mundo e têm função anti-inflamatória, mas sua superdosagem pode levar a lesões hepáticas. Além disso, deve ser evitado em pacientes contaminados pela dengue.
DIPIRONA. Prescrita para combater dores, a substância foi proibida nos EUA, sob a justificativa de que causaria agranulocitose (redução do número de leucócitos). Estudos posteriores e a Anvisa discordam. A substância pode provocar alergias.
Jornalista: Flávia Milhorance
Um comentário:
Pensamos que deveriam ser promovidas campanhas para ressaltar o uso abusivo de determinados medicamentos. Essa auto medicação deveria ser repensada, principamente pelos indivíduos que fazem o uso indiscriminado, sem saber o mal que estão fazendo a própria saúde.
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