NANOTECNOLOGIA FARMACÊUTICA APLICADA AO TRATAMENTO DA MALÁRIA
A malária
é uma doença parasitária, causada pelo protozoário do gênero Plasmodium, e transmitida ao ser humano
pelo sangue, através da picada do mosquito do gênero Anopheles, transfusão sanguínea, ou ainda pelo compartilhamento de
seringas contaminas com o parasita. Estima-se que haja, em média, 400 milhões
de casos clínicos e cerca de 3 milhões de mortes anualmente, por malária, no
mundo. Dentre as quatro espécies que infectam o ser humano, três delas (P.
vivax, P. malariae e P. ovale) apresentam
quadros febris com duração característica de cada uma, bem como
particularidades nos quadros clínicos, já a quarta espécie (P. falciparum) é
responsável por parasitemias e, consequentemente, pela maioria dos casos que
evoluem para óbito. Isto ocorre, porque a parasitemia atinge todas as hemácias
com receptores para glicoforina, se instalam rapidamente, induzindo a formação
de proeminências nas membranas dessas células, resultando na obstrução
vascular, hipoxia tecidual e/ou necrose isquêmica. Em todas as manifestações, a
ruptura das hemácias resulta em anemia e, de forma concomitante, a liberação do
pigmento malárico. As hemácias lesadas e o pigmento malárico, são removidos do
sangue por fagocitose, induzindo assim, a esplenomegalia e o aumento anormal do
fígado.
Os problemas relacionados ao
tratamento, se dá pela difícil adesão terapêutica do paciente, por fatores como:
a utilização de dois ou mais medicamentos, efeitos adversos intensos como
náuseas e vômitos, o baixo índice terapêutico desses fármacos e interações
medicamentosas. Além disso, é necessário levar em consideração, a resistência do
mosquito transmissor aos inseticidas, a resistência do Plasmodium aos
medicamentos antimaláricos e as condições sócio econômicas das populações.
Entretanto, estudos para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos
antimaláricos, utilizando nanotecnologia, tem se mostrado eficaz para o
tratamento desta doença, com o intuito de controlar a liberação de fármacos de
modo a aumentar o tempo de ação dessas substâncias no organismo, a utilização
de antimaláricos considerados tóxicos na forma convencional, e ainda
direcionando o fármaco para sítios específicos de células-alvo, por meio da
encapsulação dos ativos em nanoestruturas como lipossomas, nanopartículas e
micropartículas, e em relação as vacinas, prolongar o tempo de duração e elevar
o número de anticorpos específicos no organismo.
Algumas pesquisas desenvolvidas, que comprovaram a
validade dessa estratégia:
1998: foi desenvolvida formulações
lipossômicas contendo artemeter, uma substância semi-sintética, derivada de
artemisinina, efetivo contra o P. falciparum resistente a certos
antimaláricos. “Dentre as formulações desenvolvidas, a composta por
dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC), diberenoilfosfatidilcolina (DBPC),
colesterol e artemeter, foi a selecionada para ensaios in vivo,
utilizando coelhos machos, que receberam os lipossomas por via oral e
intravenosa. Os resultados mostraram um aumento significativo da
biodisponibilidade do fármaco, quando administrado em lipossomas por via oral
(97,91%), comparado com os 31,83% quando administrado sob a forma de suspensão
oral. E o artemeter em lipossomas administrados por via intravenosa, resultou em
aumento no tempo de meia-vida, quando comparado com aqueles de outros derivados
da artemisinina, como a própria artemisinina e o artemeter.”
2006: foi realizado outro estudo,
onde foram desenvolvidas nanocápsulas, para o encapsulamento do fosfato de
cloroquina, essas partículas apresentaram “reduzida capacidade hemolítica,
reduziram o nível de trofozoítos jovens em cultura de P. falciparum e
prolongaram a permanência da cloroquina no sangue de ratos, em estudos de biodistribuição
após administração intravenosa, sem que efeitos adversos tenham sido
observados.”
1997:
foram desenvolvidas microesferas, contendo desferrioxamina (DFO), um agente
quelante de ferro com atividade antimalárica in vitro e in
vivo, impedindo o acesso do parasita ao ferro, que é um elemento essencial
para seu desenvolvimento. O DFO apresenta tempo de meia-vida curto, entretanto
utilizado em micropartículas, sua biodisponibilidade foi alterada. “De fato, a
formulação de micropartículas apresentou taxa de encapsulamento superior a 70%,
perfil cinético caracterizado por rápida liberação inicial, seguida de taxa
marginal de liberação controlada.”
No caso
das vacinas, o objetivo é a “associação das vacinas com adjuvantes, que
permitam estímulo da resposta imune com níveis de anticorpos elevados por
período de tempo prolongado.” Um teste realizado em 1996, com microesferas biodegradáveis, como adjuvante para um peptídeo sintético da malária, o P30B2, realizado com
camundongos, levou a resultados satisfatórios, demonstrando a propriedade dessa
nanoestrutura em induzir a produção de anticorpos e o seu potencial em
prolongar os níveis de anticorpos por períodos de até 45 semanas.
Referência:
PIMENTEL,
L. F.; JÚNIOR, A. T. J.; MOSQUEIRA, V. C. F.; MAGALHÃES, N. S. S. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas. Nanotecnologia farmacêutica
aplicada ao tratamento da malária, São Paulo, v. 43, ed. 4, out/dez 2007.
Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-93322007000400003&script=sci_arttext.
Acesso em: 1 maio 2020.