Existe um número considerável de substâncias de origem marinha, em fase de testes pré-clínicos e clínicos para tratamento de doenças, o que ressalta o potencial destas moléculas na cura de doenças. Durante o processo de P&D de fármacos, de cada 5000 substâncias que entram em fase de testes pré-clínicos apenas 5 passam aos estudos clínicos e uma só molécula resulta num medicamento.
A função ecológica das moléculas farmacologicamente ativas isoladas de fontes marinhas parece ser a de assegurar o sucesso do hospedeiro na competição por espaço ou na defesa contra predadores ou micro-organismos patogênicos, tanto que foram os animais sésseis ou com reduzida capacidade de locomoção, de corpo macio e desprovidos de estruturas físicas de defesa (corais moles, algas...) estão, em estudos pré-clínicos ou clínicos. A bioatividade das moléculas de origem marinha, é muito potente, o que reforça a hipótese da sua função protetora. Contudo, no processo de transformação das “armas químicas” dos organismos marinhos em fármacos para uso humano, essa característica repercute na alta toxicidade destas moléculas ou em intoleráveis efeitos colaterais. O baixo rendimento do material, a constante complexidade estrutural dos produtos naturais e sua consequente dificuldade de síntese somam-se ao rol dos motes que indicam o desenvolvimento de fármacos de origem marinha.
A história das substâncias que estão ou passaram pela fase de testes clínicos, de certa forma, ilustra os diferentes aspectos relacionados ao desenvolvimento de fármacos a partir de fontes marinhas. A geração de moléculas análogas ou congêneres para avaliar as relações entre estrutura e atividade e as modificações estruturais para otimizar os parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos são recursos geralmente disponíveis para a superação da questão da toxicidade.
Quando se trata de amostrar material para estudos químicos ou de screening farmacológico, a convenção rege que a coleção entre 500 e 1000 g (considerando o peso úmido) de cada organismo é uma quantidade bastante razoável e suficiente para cumprir todas as etapas da prospecção sem causar impacto ecológico. Sendo assim, quando se chega à molécula bioativa isolada e se vislumbra avançar nos estudos pré-clínicos e, especialmente, nas etapas clínicas, deve-se considerar alternativa outra que a coleta do animal selvagem.
Referência: LOUTUFO, Letícia Veras Costa; WILKE, Diego Veras e JIMENEZ, Paula Christine. Organismos marinhos como fonte de novos fármacos: Histórico & perspectivas. Quim. Nova, Vol. 32. Publicado na web em 02/04/2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-40422009000300014 Acesso em: 28 de Maio de 2021.
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