9 de maio de 2020


NANOTECNOLOGIA FARMACÊUTICA APLICADA AO TRATAMENTO DA MALÁRIA





A malária é uma doença parasitária, causada pelo protozoário do gênero Plasmodium, e transmitida ao ser humano pelo sangue, através da picada do mosquito do gênero Anopheles, transfusão sanguínea, ou ainda pelo compartilhamento de seringas contaminas com o parasita. Estima-se que haja, em média, 400 milhões de casos clínicos e cerca de 3 milhões de mortes anualmente, por malária, no mundo. Dentre as quatro espécies que infectam o ser humano, três delas (P. vivaxP. malariae e P. ovale) apresentam quadros febris com duração característica de cada uma, bem como particularidades nos quadros clínicos, já a quarta espécie (P. falciparum) é responsável por parasitemias e, consequentemente, pela maioria dos casos que evoluem para óbito. Isto ocorre, porque a parasitemia atinge todas as hemácias com receptores para glicoforina, se instalam rapidamente, induzindo a formação de proeminências nas membranas dessas células, resultando na obstrução vascular, hipoxia tecidual e/ou necrose isquêmica. Em todas as manifestações, a ruptura das hemácias resulta em anemia e, de forma concomitante, a liberação do pigmento malárico. As hemácias lesadas e o pigmento malárico, são removidos do sangue por fagocitose, induzindo assim, a esplenomegalia e o aumento anormal do fígado.
         Os problemas relacionados ao tratamento, se dá pela difícil adesão terapêutica do paciente, por fatores como: a utilização de dois ou mais medicamentos, efeitos adversos intensos como náuseas e vômitos, o baixo índice terapêutico desses fármacos e interações medicamentosas. Além disso, é necessário levar em consideração, a resistência do mosquito transmissor aos inseticidas, a resistência do Plasmodium aos medicamentos antimaláricos e as condições sócio econômicas das populações. Entretanto, estudos para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos antimaláricos, utilizando nanotecnologia, tem se mostrado eficaz para o tratamento desta doença, com o intuito de controlar a liberação de fármacos de modo a aumentar o tempo de ação dessas substâncias no organismo, a utilização de antimaláricos considerados tóxicos na forma convencional, e ainda direcionando o fármaco para sítios específicos de células-alvo, por meio da encapsulação dos ativos em nanoestruturas como lipossomas, nanopartículas e micropartículas, e em relação as vacinas, prolongar o tempo de duração e elevar o número de anticorpos específicos no organismo. 

           Algumas pesquisas desenvolvidas, que comprovaram a validade dessa estratégia:

1998: foi desenvolvida formulações lipossômicas contendo artemeter, uma substância semi-sintética, derivada de artemisinina, efetivo contra o P. falciparum resistente a certos antimaláricos.Dentre as formulações desenvolvidas, a composta por dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC), diberenoilfosfatidilcolina (DBPC), colesterol e artemeter, foi a selecionada para ensaios in vivo, utilizando coelhos machos, que receberam os lipossomas por via oral e intravenosa. Os resultados mostraram um aumento significativo da biodisponibilidade do fármaco, quando administrado em lipossomas por via oral (97,91%), comparado com os 31,83% quando administrado sob a forma de suspensão oral. E o artemeter em lipossomas administrados por via intravenosa, resultou em aumento no tempo de meia-vida, quando comparado com aqueles de outros derivados da artemisinina, como a própria artemisinina e o artemeter.”


2006: foi realizado outro estudo, onde foram desenvolvidas nanocápsulas, para o encapsulamento do fosfato de cloroquina, essas partículas apresentaram “reduzida capacidade hemolítica, reduziram o nível de trofozoítos jovens em cultura de P. falciparum e prolongaram a permanência da cloroquina no sangue de ratos, em estudos de biodistribuição após administração intravenosa, sem que efeitos adversos tenham sido observados.”


1997: foram desenvolvidas microesferas, contendo desferrioxamina (DFO), um agente quelante de ferro com atividade antimalárica in vitro e in vivo, impedindo o acesso do parasita ao ferro, que é um elemento essencial para seu desenvolvimento. O DFO apresenta tempo de meia-vida curto, entretanto utilizado em micropartículas, sua biodisponibilidade foi alterada. “De fato, a formulação de micropartículas apresentou taxa de encapsulamento superior a 70%, perfil cinético caracterizado por rápida liberação inicial, seguida de taxa marginal de liberação controlada.”


No caso das vacinas, o objetivo é a “associação das vacinas com adjuvantes, que permitam estímulo da resposta imune com níveis de anticorpos elevados por período de tempo prolongado.” Um teste realizado em 1996, com microesferas biodegradáveis, como adjuvante para um peptídeo sintético da malária, o P30B2, realizado com camundongos, levou a resultados satisfatórios, demonstrando a propriedade dessa nanoestrutura em induzir a produção de anticorpos e o seu potencial em prolongar os níveis de anticorpos por períodos de até 45 semanas.

Referência:
PIMENTEL, L. F.; JÚNIOR, A. T. J.; MOSQUEIRA, V. C. F.; MAGALHÃES, N. S. S. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. Nanotecnologia farmacêutica aplicada ao tratamento da malária, São Paulo, v. 43, ed. 4, out/dez 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-93322007000400003&script=sci_arttext. Acesso em: 1 maio 2020.

4 comentários:

Natália e Carolayne disse...

Durante a prática da farmácia clínica, percebemos que um grande obstáculo é a adesão ao tratamento. A nanotecnologia pode ajudar nesse fator ao trazer um medicamento mais específico, diminuindo número de doses, número de medicamentos que o paciente deverá usar, e efeitos adversos, fatores que ajudariam no combate à malária.

- Natália Wirowski

Jardel / Tailine disse...

É notável a importância de busca por novos tratamentos, a fim de minimizar os efeitos colaterais que é o um dos pontos de não adesão ao tratamento. Tendo em vista o aumento do uso de nanossitemas e nanopartículas, percebemos então que seria uma forma de minimizar esses efeitos colaterais da terapêutica convencional e destacamos a grande valia para prevenção de epidemias e de doenças como a malária.

Jardel

Unknown disse...

Os sistemas de liberação controlada de fármacos vêm recebendo atenção especial nesta área de pesquisa, com o desenvolvimento de estratégias para a veiculação de agentes bioativos e vacinas na forma de nanodispositivos tais como lipossomas, nanopartículas e micropartículas. Diversos nanossistemas já demonstraram eficácia na otimização de vacinas e quimioterápicos destinados ao controle da malária.

Unknown disse...

Diversos nanossistemas já demonstraram eficácia na otimização de vacinas e quimioterápicos destinados ao controle da malária e a busca por novos medicamentos é e será sempre importante até mesmo para amenizar efeitos adversos e haver uma melhora nas interações medicamentosas.
Liliane

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