Com
uma minúscula parte de intestino, recolhida através de uma biópsia, os
cientistas são capazes de fazer milhares de mini-intestinos no laboratório.
Depois, nestes tecidos chamados “organóides”, testam a resposta de um doente a
determinado fármaco. O teste permite saber se o tratamento vai ser eficaz e,
assim, evita que o doente seja submetido a uma terapia que, além de muito
dispendiosa, pode não trazer resultados. No Instituto de Biossistemas e Ciências
Integrativas (BioISI) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa existe
uma das quatro únicas equipes no mundo que usam esta técnica para doentes com
fibrose quística. Os investigadores portugueses preparam-se agora para iniciar
um ensaio clínico em Portugal e em Espanha que deverá validar o procedimento.
A fibrose quística é uma doença genética que torna o líquido dos pulmões viscoso, dificultando a respiração e provocando infecções. Afeta sobretudo os pulmões mas também outros órgãos, como os intestinos.
Organóides de um doente com fibrose quística
BIOISI/FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Até pouco tempo, existia apenas o tratamento sintomático para estes doentes com uma esperança da vida à volta dos 30 anos. “A resposta a estes doentes passava (e na maioria dos casos ainda passa) apenas por tratar os sintomas, recorrendo a antibióticos para as infecções respiratórias ou mucolíticos para ajudar a dissolver o muco espesso que fica acumulado nos pulmões e nas vias respiratórias”
Com base nos resultados dos testes pré-clínicos feitos com organóides e também com células dos pulmões (órgãos cedidos por doentes com fibrose quística que acabaram por ter de se submeter a um transplante), a equipe do BioISI pretende avançar em breve para um ensaio clínico. Inicialmente estava previsto que esta parte da investigação envolvesse apenas doentes com a mutação A561E, comum em Portugal e Espanha, mas os testes clínicos podem vir a ser alargados a doentes com outra mutação (a R334W) que os investigadores testaram nos organóides que fizeram.
O ensaio deverá decorrer no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e no Hospital Vall d’Hebron, em Barcelona, contando-se com a colaboração dos hospitais portugueses que tenham doentes com estas mutações. Antes disso, no próximo mês de Julho, os investigadores portugueses orientam um seminário em Lisboa para “ensinar” cientistas de todo o mundo a fazer mini-intestinos que podem ajudar doentes com fibrose quística.